O capítulo da rainha

 Parte de mim foi embora, mas estou falando de outra pessoa. Eu não sei como, mas uma pessoa que eu sempre desejei em meu íntimo ganhou vida como um personagem passageiro de um livro. Veio com alguns defeitos inesperados, entrou numa página qualquer sem sinalizar, fez algumas cenas, mexeu com o personagem principal, trouxe mudanças, ensinamentos, tristezas, felicidades, e foi embora.

Eu tenho a memória muito ruim, e agora olhando parece que não aconteceu, estou calmo e sem dor, mas então porque sinto tanta saudade?

Todos nós somos únicos e solitários, agimos por conta própria e tudo que fazemos é por nós mesmos, até mesmo atos de bondade e generosidade são para atender única e exclusivamente a nós mesmos. Eu me sentia poderoso com sua companhia porque não pedi por ela, me sentia confortável porque era uma regra do universo sua presença, me parecia que eu não precisava prezar por isto porque era eu, era destinado, não tinha explicação nem sentido nem luta, apenas estava ali porque fazia parte da minha existência afinal eu já a esperava antes de sua chegada.

Existia uma dúvida dentro de mim, se ela estaria ali pra sempre ou se isto acabaria e agora tenho a sensação de que pus isto à prova. Me sinto com raiva e culpado, porque se fiz isso foi por saudade do meu antigo eu de antes de sua chegada, mas o descontrole dessa vez não foi benéfico. Era uma ilusão, não estava escrito no céu como eu desconfiava, era finito e eu podia ter sido melhor para mim mesmo me esforçando por sua permanência.

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